Refúgio de Mit Chermont.

Aos poucos a fome de Mit ia passando, e a cada gole daquele delicioso sangue sentia-se diferente em relação a amiga. Tudo estava tão calmo, quando de repente sua amiga levanta rapidamente, levando um susto por isso.
O ar parecia ter ficado mais pesado com a chegada do homem, assim que o mesmo citou seu nome, levantou-se ainda um pouco atortoada do que tinha acontecido-lhe alguns segundos atrás, limpou os lábios sujos de sangue com uma das mãos e esfregou em seu vestido, aquele homem lhe passava uma sensação estranha.
Andou até o lado de Jess, colocando a mão limpa sobre o braço dela, como quem falasse para se acalmar, pronunciou em uma voz gentil enquanto sorria, tentando parecer que a presença do homem não a afetava em nada.

- Ah, eu sou Mit, você deve ser Snake, certo? Desculpe fazer você entrar por aqui em uma situação desse tipo, infelizmente nossa brincadeirinha já acabou, mas a sua arma está pronta pra te receber.

Mit foi então até sua mesa de trabalho e pegou a encomenda de Snake, era uma obra de arte e tinha dado muito trabalho fazer exatamente do jeito que ele queria, foi então se aproximando dele, com o sentimento de que cada passo em direção a ele era como se aproximasse de um buraco negro lentamente.

Snake se aproxima um pouco das garotas enquanto acende um cigarro com um isqueiro Zippo. Quando ele se aproxima de Jess repara no rabo da garota, faz uma expressão séria mas não diz nada.

Mit chega com a nova arma de Snake e o mesmo a recebe, avaliando o modelo.

- Parece boa, e resistente o suficiente... Você tem algum lugar para que eu possa testar ela?

A noite estava começando ainda e devia ter muita gente acordada, mas por sorte na cidade era bem comum o som de tiros e a maior parte da população tinha armas de fogo em casa, comummente treinando tiros no quintal para avisar os vizinhos que aquela casa tinha arma... Se um tiro não fosse acompanhado de um grito, provavelmente ninguém dava bola e Skind.

Observou a expressão séria dele, franziu um pouco o senho quando viu ele encarando a cauda de Jess, mas também não disse nada.  De qualquer modo já esperava que ele perguntasse algo do tipo, afinal, era comum para ela que seus clientes quisessem testar a arma antes de sair com elas dali.
Foi andando pela fábrica abandonada como quem apresentasse um apartamento, tudo era mais ou meonos limpo e organizado, tirando sua área de trabalho que estava completamente bagunçada e cheia de engrenagens por todo os lados.
Ao fundo podia-se ver uma porta vermelha velha, Mit não a reformava porque achava que todo aquele ambiente caótico dava uma personalidade legal para o lugar, andou até ela e a empurrou,um corredor que levava aos fundos da fábrica, um pátio com vários alvos para se testar as armas, no chão havia grama brigando para ter espaço com o concreto, algumas árvores ao fundo.

- Sinta-se a vontade para testar.

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Snake vê aquele corredor e dá um sorriso.

- Vejamos então.

Ele joga a arma para o alto girando duas ou três vezes para testar deu equilíbrio e depois tira duas balas do bolso no peito da jaqueta, carregando a arma.

Estica o braço, aponta para o meio do corredor e atira. O som do tiro era alto, parecia que a bala que ele usara era de fabricação caseira e bem mais potente do que uma normal.

Depois disso Snake anda pelo corredor vendo as marcas do tiro pelas paredes.

- Um ângulo bom de dispersão, do jeito que eu pedi.

Snake nota que ela também suportou muito bem o tiro e por causa do pêso ela não teve um tranco considerável. Só restava um teste.

Depois de retornar à entrada do corredor ele recarrega o tambor disparado, pega um cano de ferro no chão com a mão esquerda e joga p'ra frente. Em um movimento rápido ele levanta a arma com a mão direita, atira no cano, troca a arma de mão e atira novamente. É um movimento bem ágil, talvez um humano até conseguisse fazer aquilo com uma pistola pequena, mas não com uma arma pesada daquelas.

Quando a poeira baixa aquele cano de ferro estava torto, com alguns buracos no pedaço que sobrara e fincado na parede ao fundo.

- Muito bom, você faz jus ao nome que tem. O que estou devendo?

Ficava feliz em receber elogias, Mit adorava eles, principalmente quando se tratava do seu trabalho. Não esperava outro resultado da arma senão excelente, mas gostava de ver como ela funcionava nas mãos de outras pessoas.
A ruiva costumava cobrar um preço alto em dinheiro, mas sempre tentava negociar com outros tipos de coisas, afinal, isso era muito mais interessante para ela.

- Você pode me ensinar alguma coisa, quem sabe uma de suas disciplinas? Aposto que você é um ótimo professor.

Botou as mãos atrás das costas, inclinando-se um pouco pra frente, os cabelos caiam por cima dos ombros, mostrando um pouco de charme. Havia um grande sorriso em seus lábios, como se estivesse falando alguma coisa errada propositalmente, de um jeito travesso, mas não custava tentar, o pior que poderia acontecer era ele se recusar a fazer isso, mas o preço em dinheiro seria pago da mesma forma, não saia perdendo em nenhuma das situações, apenas gostava mais de uma do que outra.

Snake levanta uma sobrancelha ao ouvir a proposta da garota. Uma disciplina? Talvez outras pessoas se sentissem ofendidas com esse pedido, dependendo de qual clã fossem, mas Snake tinha razões ideológicas p'ra ensinar suas disciplinas, algo quase religioso.

- Claro que posso, seria um prazer ensinar uma garota tão bonita. Me diga um pouco sobre você, quem sabe assim não descobrimos algo que seja bem útil.

Snake parece ter ficado animado com a idéia.

Não esperava ter uma resposta positiva de Snake, então ficou um pouco surpresa, na verdade já estava pensando se ele teria todo o seu dinheiro em algum lugar daquela jaqueta. Falar algo sobre ela não era dificil, Mit era uma pessoa simples, um pouco boba, não era como um livro misterioso a ser desvendado. Apoiou uma das mãos no próprio queixo enquanto olhava para cima, analisando como iria se descrever.

- Vejamos.. eu não sou muito forte, minha rapidez e agilidade são um pouco acima média.

- Ah! Ou você quer ouvir a minha história de vida? Podemos sentar na sala pra eu te contar tudo e eu lhe sirvo "biscoitos".


A segunda frase saia em um tom um tanto áspero de brincadeira.

Snake olha para o relógio em seu pulso, então responde.

- Acho que não seria um problema, eu só estou com um pouco de fome, ultimamente minha fome tem aumentado bastante. Você tem alguém para eu comer escondia em algum lugar por aqui? Hahaha

Ele parece ser uma pessoa bem tranqüila, ou estava de bom humor. Aquilo tudo contrastava bastante com o visual dele, mas talvez fosse uma surpresa agradável.

Jess parece não gostar muito do homem, mas tenta não transparecer demais isso.

- Vocês podem conversar o quanto quiserem, eu vou dar uma volta p'ra me alimentar.

Então ela olha fundo nos olhos de Snake.

- Mas eu não demoro. Onde estão seus amigos? Hmm... Uma garota e dois caras, eu consigo sentir o cheiro em você, vocês devem ser bem ligados. Eu tenho um faro muito bom, seria fácil p'ra mim rastrear alguém, caso eu tivesse alguma razão p'ra isso.

Ele retorna o olhar de Jess e responde.

- Me pergunto que outras características animais você tem... Não se preocupe com a sua namorada, eu nem tenho razão nenhuma p'ra fazer algum mal p'ra ela, na pior das hipóteses ela ainda é uma boa armeira e isso e algo raro.

Snake se vira para Mit e diz.

- Vamos?

Mit mexe um pouco os lábios, pensativa sobre Jess. Não queria que a sua amiga se afastasse, normalmente já apreciava demais a sua presença, agora apreciava ainda mais, ficava um pouco triste por tê-la deixado sozinha.
Respondeu a pergunta de Snake com certo desânimo, como se acabassem de tirar o bico de uma criança.

- Hmn.. eu não costumo guardar nada aqui, gosto de caçar, com a JESS normalmente.

- Podemos ir...

Enfatizou o nome de sua amiga pra ver se ela percebia que não queria ficar sozinha com o Snake, não por desconforto, apenas não queria ficar sem ela. Após sua segunda frase, deixava alguns segundos em silêncio, esperando se Jess iria pegar a sua isca ou não.

Snake vê que Mit está incomodada com a saída da garota de cabelos brancos, mas não há muito que ele possa fazer. A garota diz que vai voltar logo e sai do lugar.

- Pode deixar que eu mato a minha fome depois. Vamos apenas sentar em algum lugar, assim você pode me falar um pouco sobre você com calma até que a sua amiga volte.

O homem então acompanha Mit até onde ela achar melhor e espera que ela fale.

Voltou pelo corredor que antes tinha levado ao pátio de fora, indo para a "sala" que era basicamente do lado da sua área de trabalho, apenas se separando com alguns metros de distancia, um tapete no chão e dois sofá grandes, um na frente do outro. Jogou-se no sofá, cruzando as pernas, como se fosse contar uma grande história, porém resolveu falar da sua vida de uma forma sucinta, afinal, não achava que ele precisaria dos detalhes. Ao menos, tentava falar sem detalhes.
Tentava se animar um pouco, mesmo Jess tendo se ausentado.

- Vejamos.. por onde devo começar? Eu meio que não me dou muito bem com os toreadores de uma maneira geral, tentei entender e engolir os modos deles por muito tempo, mas acabou não certo..principalmente com o meu Senhor, então decidi vir pra cá, depois de muito tempo os Grangeis acabaram me aceitando no clã deles.

Lembrava-se da maneira irritante que o seu Senhor a tratava, ficaria arrepiada se pudesse.

Snake escuta a explicação de Mit e parece pensar um pouco a respeito.

- Eu entendo você, esses clãs são uma porcaria, a Camarilla é um lixo. Gosto mais de você agora que sei disso, consigo me identificar um pouco. Então me diga, entre Potência, Fortitude e Rapidez o que te interessa mais? Imagino que essa última você já conheça pelo menos um pouco, mas eu posso te ajudar a melhorá-la. Talvez essas disciplinas te pareçam fracas quando comparadas àquelas bruxarias de controlar sombras ou voar, mas essas são as únicas disciplinas puras que os vampiros deveriam cultivar, e são as mais poderosas de todas...

Nesse momento Snake tira um canivete do bolso e o abre, passando seu fio pelo tapete no chão, deixando um corte. Depois ele abre a mão direita e acerta com muita força a lâmina em sua palma, mas ao invés de penetrar o metal se quebra e não cai mais que uma ou duas gotas de sangue no chão, acompanhadas pelos estilhaços do que antes era uma faca.

- Os outros podem tentar te enganar com a macumba deles, mas se você for tão rápida quanto um raio, tão forte quanto um elefante e tão resistente quando um diamante... Ninguém poderá vencer de você.

Ficou um pouco feliz com Snake conseguir entender a sua frustação com certo clã, logo ouviu as suas propostas, pensando no que faria-lhe melhor. Já era um pouco rápida, mas nos outros dois atributos penava um pouco.
Observa o homem tirar o canivete do bolso, e mesmo que ele cortasse o tapete do chão, não faria o mesmo com a mão dele. Isso a deixava um pouco impressionada, se tentasse a mesma coisa provavelmente não obteria os mesmos resultados, mas lamentou seu tapete, já que o mesmo agora estava com um corte, gostava daquele tapete, isso a fez franzir um pouco o cenho.
De qualquer forma, poderia comprar outro a qualquer momento, o que ele lhe ensinaria seria muito mais importante do que uma tapeçaria.

- Incrível! Bom, eu acho que no momento Fortitude me agrada mais, não acho que me dedicar a ter mais Potência vai ser muito útil.

Snake acena com a cabeça positivamente.

- Sim, pensei que lhe seria mais útil mesmo. De qualquer forma acho melhor que você comece os treinos amanhã, hoje eu ainda tenho algumas coisas p'ra fazer e imagino que também tenha planos.

Então Snake se levanta e estica a mão p'ra Mit.

- Amanhã às 19:00 aqui mesmo, o que acha? Você pode decidir o que quer aprender até lá.

Na verdade não tinha planos enquanto Jess não voltasse, lembrando-se de novo que estava longe da amiga. Levantou-se junto a Snake, apertando-lhe a mão. Andou em direção a porta da entrada da antiga fábrica abandonado, acompanhando-o a saída.

- Por mim tudo bem, e cuide bem da arma.

Assim que Snake deixa a fábrica e Mit fica sozinha lá dentro, Jess salta pela janela em sua forma animal, então anda até a amiga enquanto retorna ao normal.

- Pensei que ele fosse tentar alguma coisa, tipo te convencer a seguir ele p'ra algum lugar antes de eu voltar... Bom, além desse papo estranho de odiar disciplinas ele até que parece normal, veremos amanhã.

Jess se manteve o tempo todo escondida perto de uma janela observando as coisas, ela pensou que a melhor forma de testar as intenções de um desconhecido é lhe proporcionando uma situação de liberdade, mas é claro que existia a possibilidade de Snake ter previsto isso, ou até percebido ela de alguma forma. Ainda não era seguro confiar nele, na verdade nunca seria seguro confiar em ninguém, mas a vida é feita de riscos.

- Agora sim eu preciso me alimentar, vamos?

Jess dá uma piscada p'ra Mit e começa a sair do ambiente.

(22:00)