Refúgio de Hagen Thorn.

Segunda feira, 29/02/2016.

18:15.

A casa é bonita e bem arrumada, embora tenha algumas coisas remendadas e sujas. Hagen sabe que por trás daquele ambiente existe uma guerra nas entrelinhas, entre a bagunça de Riley e a disciplina dele próprio. Em outras ocasiões talvez fosse uma receita para brigas de faca, mas o relacionamento dos dois era bastante estável, com pequenas discussões diárias que não duravam mais de alguns minutos e, honestamente, Hagen gostava da personalidade às vezes irritante de Riley.

Hagen acorda lentamente, no escuro e um pouco confuso, sentindo seu sangue sendo drenado devagar de seu pescoço.

(Hagen está com 10 pontos de sangue)

Aquela situação havia tornado-se quase um ritual ao anoitecer, Hagen acordava com um prazer vil e mórbido sentindo o corpo de Riley sobre o dele, e as presas dela enganchadas em seu pescoço, que fazia seu corpo todo estremecer em êxtase. Ele a giraria sobre a cama ficando sobre o corpo dela e buscando o pescoço, a mordendo de forma gentil, mas sem muitas cerimônias.

Por muitas vezes ambos perdiam a noção do tempo fazendo aquilo, afinal presos em seus corpos amaldiçoados eram o único prazer sexual do qual podiam desfrutar, e aquela sensação falsa de adoração que Hagen conhecia como ninguém, era o mais próximo do amor, mas talvez debaixo de todas aquelas sequelas criadas pelo sangue havia de fato algo real, pelo menos era certo a amizade e o desejo.

Por um instante Hagen olhou pro relógio, ele marcava 18:20, havia tempo até a hora de seu trabalho, “The Hagen of the Night”, seu programa noturno começava toda meia noite em ponto, ele conversava com pessoas que o ligavam falando de assuntos variados, dava notícias de última hora e atendia a pedidos de músicas que lhe requisitavam, ao mesmo tempo se divertia naquilo, era como se aquele trabalho o mantivesse vivo e útil a sociedade de alguma maneira, Skind de alguma maneira merecia uma chance e ele ainda não sabia como, mas queria muito dar essa chance a aquele lugar.

Riley e Hagen bebem de seus pescoços como se fossem dois animais sedentos mergulhando em um lago. Cada gole era mais intenso que a memória de um orgasmo e fazia com que se sentissem mais apaixonados.

- Hagen, você não cansa desse negócio de rádio não? Quer dizer, porra, eu já te vi brigando e você não é pouca porcaria não... Como consegue ficar a madrugada sentado trocando música e conversando com aqueles malucos?!

Essa era uma conversa que eles tinham bastante. Riley nunca conseguiria entender como alguém poderia levar uma vida tão pacata (e ainda gostar!), mas em parte isso era culpa do sangue que corria dentro de si, Riley era o tipo de pessoa que se tropeçasse em uma pedra transformaria a mesma em pó, mesmo que quebrasse o pé p'ra isso. Mas com o tempo ela aprendeu a respeitar o estilo de Hagen, só nunca deixou de tentar entender o que nunca entraria em sua cabeça.

- Eu vou no bar do Matheus, espero que aquela vagabunda não esteja lá enchendo o saco. Se estiver tranqüilo na rádio coloca uma daquelas músicas gigantes p'ra tocar e passa lá, de repente a gente até arranja um lanchinho.

(Devido ao sangue que escorreu durante das mordidas, cada um perdeu um ponto de sangue adicional além do que normalmente se perde ao acordar. Hagen está com 11 pontos de sangue)

(18:45)

[Indo: Bar Striber]

O que selaria aquele ato seria um beijo com suas bocas ensanguentadas, enquanto um terminava de sorver o sangue do lábio do outro. Hagen se jogava pro lado exausto e puxava Riley pra mais perto dele.

Pela primeira vez a voz de Hagen soava naquela noite, ela era uma voz grave, bem masculina de um tom baixo e rasgado. – Riley, você já viu onde a gente vive? Estamos cercados de malucos, bandidos e drogados, a qualidade do nosso gado é a pior possível, eu tenho que me esforçar pra não beber de um cara e ficar doidão por isso, se todos nós nos juntássemos pra tornar esse lugar melhor, a vida de todo mundo seria melhor, incluindo a nossa, a rádio é meu jeito de fazer isso entende? – Ele não sabia porque repetia aquelas palavras pela enésima vez, talvez fosse algum efeito do sangue, ou simplesmente tentava se convencer daquilo ou até mesmo sua companheira. – Se eu precisar lutar, eu irei, e eu espero você lá comigo. – dizia dando um sorriso leve, deixando amostra seus dentes brancos que se destacavam na penumbra do quarto.

Hagen fitava novamente o relógio do quarto, que agora batia 18:45, levantou-se juntamente com Riley se virando pra ela. – Nah, nós temos tempo até a meia noite, eu vou lá contigo, podemos lanchar alguma coisa no caminho, eu tenho que ficar de olho em você antes que tu estoure a cara daquela garota e faça Matheus não nos olhar mais com bons olhos... – Dizia enquanto se vestia. – Sabe, eu desde que cheguei aqui tenho minhas desconfianças de que aquela garota é progênie dele, o que é que aconteceu entre vocês mesmo pra vocês não se bicarem? – Hagen terminava de se vestir como de costume, uma calça jeans, botas, uma camisa branca sem estampas e um jaqueta de couro pesada pra fingir que precisava se proteger do frio característico dinamarquês.

Tão logo montaria em sua moto e partiria com Riley pro bar.

Riley trocava suas roupas por outras igualmente usadas e com pequenas manchas de sangue seco enquanto conversavam, e respondia enquanto pulava em uma perna e tentava vestir a outra.

- Não vejo problema nenhum aqui, você que é meio fresco. E daí que a gente fica meio louco bebendo esses malucos? É divertido até, você está com medo de cair da moto? Hahaha

Riley termina de se vestir e passa o dedo indicador pelo queixo de Hagen enquanto continua.

- Eu sei que você sempre vai lutar comigo, e sei que você liga p'ra essas coisas de toreca, não tem problema baby, fico feliz de te ver com esse seu negócio da rádio, você está melhor desde que começou com isso.

Enquanto os dois seguiam até a moto de Hagen, Riley explicava sobre Melissa.

- Aquela vagabunda tem alguma coisa que me irrita, não é nada específico, só um negócio de santo que não bate mesmo, ela fala grosso mas nunca vi dar um soco em ninguém, ela só sobre os outros de porrada quando ninguém está vendo. Ah, sei lá, no dia que eu sair na mão com ela vou descobrir, essa é a melhor forma de conhecer os outros por dentro.

(19:00)

De moto, o casal leva pouco mais de 15 minutos para chegar até o bar onde os anarquistas costumam encontrar-se. O caminho estava tranqüilo e sem incidentes.