Refúgio de Mit Chermont.

Poucos lugares em Skind contavam com tanta segurança. Mit vivia em uma fábrica abandonada e possuía uma produção customizada, feita sob encomenda de vários negociantes internacionais e locais.

Dentro da própria fábrica os antigos escritórios foram transformados em um lar, decorados de maneira espalhafatosa e arrumados em um caos organizado.

Às 02:00 do dia 29/02/2016, finalmente Mit terminava sua mais nova criação.

Após dar os últimos retoques estava pronta aquela arma que havia sido feita sob encomenda. Para olhares desavisados ela poderia parecer um objecto decorativo com seus entalhes, mas a Shotgun de cano curto era capaz de causar muito mais do que uma boa impressão.

Uma vez pronta e testada, a arma já podia ser guardada até que seu dono a viesse buscar. Mit estava livre pelo resto da noite, e o sangue gasto na produção estava começando a incomodar a garota pela fome.

Jess salta da janela onde estava esperando em posição de cócoras e se aproxima de Mit com sua cauda branca balançando.

- Agh, conseguiu terminar isso? Finalmente, eu estava ficando louca de tédio já. Guarda esse negócio, vamos sair p'ra caçar um pouco!

A pele pálida de Mit, um pouco suja por conta das horas de trabalho gastas, era iluminada pela luz do luar que conseguia atravessar as janelas levemente empoeiradas do local.
Jess não demorou muito para aparecer, assim como o sorriso franco que surgiu em seus lábios ao ver sua amiga. As mãos um tanto escardidas, os cabelos bagunçados demais para o gosto dela, pensava se deveria ter agilizado o trabalho para dar tempo de se encontrar mais decentemente com ela, não que Jess fosse ligar, afinal, ela nunca ligava pra esse tipo de coisa.

- Eu só estava esperando você chegar para fazer isso.

A arma estava perfeita, entalhada a mão em um tom de dourado com três raposas, típico de sua assinatura, depositou sua mais nova criação em uma caixa aveludada na cor carmim, e colocou-a em cima de sua mesa de trabalho, ansiosa para seu cliente aparecer. Estava começando a ficar com fome, e para ela era muito mais divertido caçar com alguém do que sozinha, Jess veio na hora certa, foi em sua direção a passos calmos, a diversão parecia que ia começar.

Jess fica animada para caçar com sua amiga, e as duas saem da fábrica a trancando em seguida.

- E aê rapozinha, você está com fome do que hoje?

As duas já se aproximavam do refúgio de Mit quando Jess volta para a dianteira. Com a sua Rapidez a ruiva havia ultrapassado a raposa, mas a velocidade sobrenatural não podia ser mantida por mais do que alguns poucos segundos.

- Devia ter guardado seus truques p'ra recta final, boba. Hahaha

Então as duas chegam a porta, com Jess um pouco na frente.

- Não foi dessa vez, mas o seu prêmio está guardado, da próxima quem sabe?

Jess podia até pegar leve em uma disputa, mas nunca deixaria o outro ganhar deliberadamente, ela considerava uma vitória falsa mil vezes mais humilhante do que uma derrota justa.

- Como eu ganhei, eu tomo banho primeiro, e você pode esperar aí com os seus brinquedos. Aliás, esse revolver aí já não era p'ra ter sido entregue?

Resmungou na própria mente.
Mit ficou levemente brava por ter perdido, nada que durasse mais que alguns segundos, principalmente por perceber pela fala de Jess que deveria ter deixado sua rapidez para usar perto da chegada, mas na afobação acabou não calculando direito.
Relembrou que conseguiria seu prêmio, infelizmente só quando vencesse, pensou em fazer outro tipo de aposta, mas talvez não fosse apropriado.
Jess foi em direção ao banheiro, ele não era pequeno porém nem grande, era de um tamanho confortável, e continha uma banheira relativamente luxuosa, chuveiro, vaso sanitário e uma pia rebuscada.
Deixando a porta semi-aberta, e logo em seguida Mit pode ouvir a água correndo, o vapor que saia da água quente deixava os vidros embaçados e o chão e paredes levemente úmidos do banheiro.
Invejou a garota de cabelos brancos poder tomar banho primeiro, estava tão imunda que um banho era tudo que desejava, parou de costas para a porta de onde a garota de banhava, e disse:


- Da próxima vez é você quem vai perder, sabe disso não é? A primeira vez sempre é sorte.

Pensou em virar, mas achou melhor que não. Caminhou suspirando em direção a sua bancada de trabalho, imaginando se ficaria mais suja se ficasse tempo demais lá.
Olhou para a arma que Nick já deveria ter buscado a muito tempo atrás, estava atrasado, odiava atrasos.
Certa poeira já estava depositada em cima da caixa de veludo carmin padrão, abriu a caixa e observou sua "obra".


- É um desperdício você não estar sendo usada.

Jess tirou suas roupas e entrou na banheira, relaxando bastante e sem pressa alguma, p'ra provocar a amiga que ansiava tanto por um banho. Enquanto sentia seu corpo ganhando calor pela água ela pensava em sua próxima aposta com Mit. Havia sido decidido o prêmio há algum tempo, mas ela gostava de provocar aquela ruiva e apenas o entregaria quando a garota a surpreendesse de verdade, o que podia trazer problemas p'ra ela caso demorasse muito...

Vinte minutos naquela água quente se banhando e Jess estava pronta, mas ainda gastaria dez minutos enrolando só de brincadeira.

Ao sair do banheiro com sua toalha negra enrolada envolta ao seu corpo, Jess balançou sua cabeça p'ra soltar um pouco seus longos cabelos brancos, então passou andando elegantemente por Mit enquanto dizia.

- O banheiro é todo seu, espero que eu não tenha demorado muito.

Após passar ela solta sua toalha do corpo e a joga em algo como se fosse um cabideiro. O corpo branco como a neve de Jess se confundia com seu cabelo e seu andar realmente lembrava uma raposa quando vista de costas se afastando. Mostrar seu corpo todo limpo e branco em contraste com as roupas sujas de sangue e o cabelo ruivo de Mit era uma provocação óbvia, apenas mais uma das dezenas de brincadeiras daquela raposa que cada dia se mostrava mais parecida com as lendas japonesas.

O tempo que Jess ficou no banho pareciam uma eternidade para Mit, ouviu a água se cessando e logo em seguida um pequeno ranger de porta, indicando que tinha acabado. Quando se virou para ir em direção ao banheiro, deu de cara com Jess totalmente nua com sua toalha negra jogada no chão.
Olhe para baixo, olhe para baixo, pensava consigo. Não era normal para Mit simplesmente se despir por ai, principalmente na casa dos outros, era amiga da raposa a muito tempo, porém foi um susto vê-la totalmente despida.
Usou rapidez para chegar ao banheiro e assim que chegou lá trancou a porta.
A banheira que jess tinha usado estava com a água toda chuva, então esvaziou a mesma e a preencheu de novo com água limpa e quente, se despiu e adentrou na banheira, deixando apenas os olhos para fora da água, enquanto abraçava seus joelhos.
Ficou algum tempo naquela posição, até decidir se lavar e tirar a camada de sujeira que estava em sua pele, durou um pouco mais que o previsto para terminar de se banhar, todavia, assim que terminou se secou e trajou um roupão vermelho amarrado justo ao corpo, os cabelos molhados, alguns fios grudados no rosto.
Destravou a porta, e a abriu, pronunciando bem alto.

- É bom ter vestido alguma roupa!

Jess estava totalmente vestida quando Mit saiu do banheiro, sua roupa preta agora dava um toque gótico ao mesmo tempo que parecia bastante funcional. Seu cabelo já seco e naturalmente largado trazia um pouco de luz p'ra cena.



- Não precisa ficar com medo, eu não mordo. Espera, eu mordo sim. Hahaha

A garota de cabelos brancos terminava de se arrumar em um espelho e olhava pro relógio.

- Nós temos uma hora livre, o que quer fazer?

O refúgio de Mit não tinha divisórias de paredes (apenas seu banheiro), sendo apenas um espaço amplo com móveis e tapetes dividindo o que era seu local de trabalho, seu quarto, closet e área de recreação.
Foi até seu armário de madeira rústico, retirou delicadamente o roupão que usava, deixando-o cair no chão. Virou-se de costas para a amiga, tentou ser agil ao pensar em sua roupa, com receio que Jess a olhasse muito, isso a acanharia de certa maneira.
Escolheu um vestido ao estilo chinês em vermelho com bordados em dourados de flores. Havia fendas em ambos os lados, e para combinar escolheu um salto preto, vestiu rapidamente, meio sem jeito.


Tentava ser sensual como a garota de cabelos brancos, porém mesmo com um vestido colado ao corpo, não havia uma áurea de sensualidade ali.
Assim que estava completamente vestida, virou-se para Jess e disse:

- Vamos ao bar, quem sabe posso achar algum cliente meu lá e aproveito para entregar as armas que estão empoeirando aqui.

Jess observa sua amiga escolhendo a vestimenta p'ra aquele final de noite e depois responde.

- Ok, eu não temos nada melhor p'ra fazer mesmo...

As duas seguem para o SUV de Mit e a ruiva dirige até o bar com a encomenda enquanto Jess fica com a cabeça p'ra fora do vidro sentindo o vento em seu rosto.

Voltando de: Refúgio de Nick Jackson

Após sair do banho, trajou um vestido de latex, escovou os cabelos e se arrumou até ficar decente. Seguiu em caminho para o seu regúgio, saindo um pouco as pressas da casa de Nick. Não sabia muito bem se tinha ajudado muito seu amigo, mas iria tentar achar roupas melhores em seu armário do que aquelas roupas apertadas para o Tarzan.
Assim que entrou no refúgio com Jess, que já vestia roupas limpas como ela e estava completamente vestida, estava a espera de um dos seus clientes mais importantes, pensando se ele iria demorar tanto quanto o Nick pra vir buscar a arma.
Seu armário não tinha muitas roupas de homens, principalmente para homens com mais de 1,70. Apesar de gostar de vestir conhecidos de maneira extravagante esporadicamente, era realmente dificil achar algo ali que não se destacasse em meio as pessoas comuns.
Foi até o mesmo tentando se decidir entre os tecidos brilhantes que tinha, as plumas, e alguns objetos suspeitos.

- Jess, me ajuda aqui, como é que eu vou vestir o Tavs?


Roupa de Mit atual:

Jess tira suas roupas sujas enquanto vai nua até o armário de Mit e vê as roupas que a amiga estava escolhendo para Tavs.

- Hmm, acho que ele já chama bastante atenção sozinho, não acha melhor a gente ver uma roupa comum p'ra ele depois? Pegue qualquer coisa que você acha que sirva só p'ra quebrar um galho até lá.

Depois ela vai até seu próprio armário e pega um vestido para si. Era uma roupa interessante, não aparentava proteger muito mas com certeza era confortável.



- Mit, eu vou te fazer outro desafio, está pronta?

Jess parecia séria, mas com um meio sorriso no rosto.

    Realmente, não acharia nada de neutro naquele armário, escolheu a maior blusa masculina que tinha lá, era toda preta e cheia de fivelas espalhadas, depois disso desistiu de procurar algo mais normal, afinal, mesmo que achasse, provavelmente não serviria no Tavs. A roupa de Jess era fofa para Mit, dava vontade de aperta-la até sufoca-la, se isso fosse possível.
    Olhou para sua amiga um pouco curiosa, já tinha perdido um desafio com a mesma, mas se ganhasse iria ser presenteada com uma surpresa como havia sido prometido da outra vez, o que a agradava. Iriam ter certo tempo até seu cliente chegar, talvez conseguissem fazer isso nessas horas livres.
    Não pretendia perder dessa vez, não importando o que fosse. Um sorriso grande aparecia nos lábios de Mit, quase como se tivesse visto uma banheira de sangue só para ela. Disse então, empolgada:

- Eu sempre estou pronta Jess.

Jess observa profundamente Mit, seus olhos penetravam a garota como se estivessem enxergando algo quilômetros a fundo.

Então ela tira um guizo do bolso, amarra na ponta do próprio rabo e diz:

- Você tem dez minutos p'ra tirar esse guizo de mim, se você conseguir vai ganhar o seu prêmio...

Então ela começa a se transformar lentamente, e quando termina olha para Mit, dá um sorriso e salta por cima da garota, batendo com o guizo na testa da mesma. Jess se move rápido e tenta ficar sempre atrás de Mit, mas o som do brinquedo deixa a ruiva sempre saber onde ela está.

(19:30)

Mit adorava o barulho que o guizo fazia, ficou animada com aquele desafio. Após sua amiga de cabelos brancos lentamente virar uma grande raposa, mordeu os próprios lábios como se estivesse pronta para caçar.
A cada tilintar do guizo, virava-se rápido tentando observar onde Jess estava para pular em cima da cauda dela, usou sua rapidez para não perdê-la de vista e reagir rápido aos movimentos da raposa. Demorou um pouco, e as vezes abraçava apenas o ar, ou o pelo macio de sua amiga passava de leve nos dedos de Mit, escapando. Porém, finalmente conseguiu pular nas costas de Jess, tentava se segurar ali, enquanto se esticava de bruços em direção a cauda da mesma.

- Agora você não escapa!

Enquanto Jess dança em volta de Mit a garota tenta de qualquer forma conseguir o guizo, o barulho não ajudava tanto porque ao ouvir o som vindo de um certo lugar Jess parecia já estar em outro. Em certo momento Mit consegue segurar na raposa e subir nela, mas sua roupa de vinyl escorregava demais e Jess a derrubava fácil. Quando o prazo de dez minutos estava prestes a acabar a raposa mais uma vez salta por cima de Mit para bater com o guizo em sua testa, mas dessa vez o som do mesmo sai um pouco diferente.

Jess olha p'ra trás e vê Mit sorrindo com o guizo preso entre seus dentes, além de um pouco de pêlo.

Lentamente Jess volta sua transformação e assume sua forma humana natural.

- Olha só, por um segundo pensei que você tivesse perdido de novo...

Jess percebe que Mit estava bastante cansada, a ruiva teve que gastar três pontos de sangue para usar a rapidez algumas vezes durante esses dez minutos, juntando isso com o ponto gasto normalmente para acordar era esperado que a fome estivesse batendo na garota.

- Bom, não se preocupe com a sua sede, eu vou te dar o seu prêmio agora...

Jess vai até um móvel e tira uma carta lá de dentro, então a entregando para Mit. A carta escrita à mão dizia:

"Jessika,

Quando achar que ela está pronta pode lhe conceder nosso presente, uma vez completo o laço.

N. Crow."

- Você sabe do que o velho está falando? Sabe qual é o seu presente?

(19:50)

Assim que caiu das costas de Jess, Mit já tinha praticamente perdido as esperanças. Viu sua chance quando sua amiga raposa tentou novamente bater o guizo em sua testa, agarrando-lhe com os dentes. Nem acreditava que tinha finalmente vencido uma disputa, mas para isso usou muitos pontos de sangue, deixando-a esfomeada.
Não conseguia parar de sorrir enquanto fitava Jess se transformando novamente, e a observou andando em direção ao móvel, achou estranho tirar algo lá de dentro, nem sabia que podia guardar coisas ali, focou um pouco mais seu olhar e percebeu que era uma carta.
O conteúdo do papel era muito estranho para Mit, pensava consigo mesma “N.Crow? Se for quem eu estou pensando.. não entendo porque ele escrevia uma carta para mim..” franziu entre as sobrancelhas, um pouco em dúvida com aquela situação.
Amarrou o guizo que estava preso em uma cordinha no próprio pescoço, como se fosse um prêmio alternativo, foi em direção a outra em passos lentos e parou na frente de Jess, se apoiando na mesa que ficava ali perto.

- Eu não faço ideia do que você está falando Jess, inclusive, mal ouvi falar desse tal N.Crow, é mesmo a pessoa que estou pensando? E se for, nada está fazendo sentido na minha cabeça.

Jess sorri um pouco, então explica.

- Mit, o que você mais queria na vida era ser uma raposa, certo? Eu vou te ensinar os segredos da Metamorfose, você fez por merecer isso, mas existe uma condição... Você precisa fazer um laço completo comigo, então pense bem se quer mesmo.

Então ela completa:

- Se você quiser um tempo p'ra decidir eu entendo, mas precisamos sair p'ra você caçar. Se aceitar o laço pode matar a sua fome com o meu sangue, eu ainda estou tranqüila em relação a isso.

Quando ouviu Jess pronunciando as palavras "ser uma raposa", os olhos de Mit brilharam instantaneamente, o sorriso ia de orelha a orelha, ficando quase macabro. Não podia estar mais feliz, finalmente ia poder realizar o seu tão amado sonho, nem podia acreditar no que estava acontecendo. Fazer um laço completo com Jess não era problema para a futura raposa, elas já eram muito amigas, não pretendia ser desleal com ela de qualquer jeito ou algo do tipo.
Pulou em sua amiga, abraçando-a o mais forte que podia, e falou muito animada, de um jeito escandaloso e alto.

- VAMOS FAZER AGORA! A-G-O-R-A, ATÉ PARECE QUE QUERO UM TEMPO PRA DECIDIR

Jess dá risada com a empolgação de Mit, então pensa em abrir seu pulso para a ruiva beber, mas achou aquela uma forma muito dominadora para se fazer um laço. Jess podia ser mais experiente e forte que Mit, mas elas eram amigas, e se Mit confiava na garota de cabelos brancos a ponto de fazer um laço com a mesma, Jess também poderia confiar na ruiva.

- Bom, então pode matar a sua sede, só cuidado p'ra não fazer muita bagunça e nem acabar bebendo a minha alma. Hahaha

Jess abre a gola de seu vestido para não sujá-lo, revelando assim seus ombros e busto.

Ficou nervosa. Estava tão eufórica pensando em como viraria uma raposa, como seria ela em forma de raposa, se iria ser tão bela quanto a própria Jess, que de repente se viu ali naquela situação constrangedora.  Olhava para ela totalmente sem jeito, podia-se ver claramente o acanhamento em seu olhar.
Não era de maneira alguma uma situação ruim,  contudo, apenas não sabia lidar com aquilo tudo.
Fazia muito tempo desde que tinha provado do sangue de um vampiro, no caso, tinha feito isso apenas uma única vez, e era do seu "senhor", seu histórico com ele não ia nada bem, imaginava se o mesmo iria acontecer com elas.
Mesmo fazendo tantos anos lembrava-se exatamente do gosto único do sangue que escorria do pulso do seu senhor aquela noite, da vontade de sempre beber mais daquele líquido, o formigamento em seus lábios..era quase como se fosse uma droga para ela.
Apesar de ambas serem muito amigas, Mit nunca tinha tocado em Jess sem ser de um jeito bobo , brincalhão e despretensioso, nada sério e muito menos íntimo como considerava aquela cena.
Se aproximou lentamente enquanto ouvia as palavras da garota de cabelos brancos, provavelmente se ainda fosse humana estaria mais corada que um tomate, mas não era aquele caso. Repousou as mãos delicadamente nos ombros de Jess, como se tivesse tocando em uma flor, aproximou o rosto do pescoço, em dúvida entre ele e o espaço entre ele e os ombros, demorou alguns segundos observando, o que deixava a situação ainda mais constrangedora para ela. Cada segundo que se passava, parecia durar muito mais do que o tempo que levaria originalmente.
Levou os lábios rosados ao pescoço pálido da garota, cravando as presas ali. Tentava ser o mais gentil possível, mas assim que sentiu o gosto do sangue de Jess era realmente difícil controlar a afobação.
Apertou os dedos que estavam no ombro dela, os olhos de Mit agora fechados, cada gota daquele líquido vermelho era viciante, gota após gota queria mais e mais, a fome dela não estava ajudando, tentava se manter calma, porém, não se render e atacar a raposa de forma mais agressiva era uma luta.

Jess tenta não rir com toda a afobação da amiga, mas a mordida dela era prazerosa. O facto de Mit aceitar ser laçada sem pensar duas vezes era um pouco preocupante. Depois de Mit beber um litro do sangue de Jess a segunda deita no chão com a ruiva por baixo, assim se a ruiva perdesse o controle Jess poderia se soltar mais facilmente.

Enquanto o sangue de Jess desce pela garganta de Mit, parece que junto com ele uma nova sensação entra na Toreador. Ela já gostava da amiga, claro, mas agora ela estava começando a ser laçada, o que significava um "gostar" diferente, sobrenatural. Enquanto as duas ficavam deitadas no chão de repente a Gangrel abre bem os olhos como quem acorda atrasado, se solta de Mit e levanta com o pescoço ainda aberto, então olhando p'ra entrada da fábrica, onde um homem está de perfil apoiado em uma máquina.

- Quer me dizer o que está fazendo aí antes de eu te perguntar sem tanta educação?

(20:20)

Snake está apoiado com as costas em uma das máquinas de Mit e não parece se sentir ameaçado por Jess.

- Eu até diria que podia voltar mais tarde e deixar vocês terminarem a brincadeira de vocês, mas a verdade é que eu não posso. Uma das duas deve ser Mit Chermont, certo? Eu fiz uma encomenda com você... Depois que eu receber ela posso até entrar na brincadeira, se tiver espaço p'ra mais um.

Apesar da aparência de Snake ser relativamente normal se comparada a um ancião Tzimisce ou um Nosferatu, algo no homem indica claramente sua característica sobrenatural. Talvez seja a brisa fria que entrou junto com ele na fábrica ou uma sensação de que ele possuía um espírito o acompanhando. Essas sensações do profano causadas pela sua presença poderiam ser consideradas horríveis ou legais, amedrontadoras ou atraentes, dependendo da pessoa que as sentisse, mas algo era certo: ninguém conseguia tratar aquele homem com indiferença.